Territórios
Pinacoteca SBC
(itinerância 2)
2024
Pinacoteca de São Bernardo do Campo
Rua Kara, 106, Jardim do Mar
São Bernardo do Campo – SP
Texto Curatorial
A exposição Territórios reúne a pesquisa visual de Márcia Gadioli. Sua obra está comprometida com a experimentação de técnicas e materiais, fazendo avançar assim o campo artístico como um todo, não só pelas questões poéticas que veicula, mas também pela práxis da pesquisa e sua materialização. No centro desta investigação está o meio fotográfico, veículo perfeito para manipulação e reconfiguração de imagens. Elas são, em alguns casos, produzidas artesanalmente, por transferência sobre papéis transparentes, ou ainda sobre parafina, obtendo-se assim, por sobreposição, novos sentidos e visualidades. Sua produção fotográfica se manifesta igualmente por meio dos livros de artista, retomando aqui também os processos manuais que lhe são caros.
Márcia estrutura sua obra por meio de dois eixos complementares: por um lado, ela constrói uma crônica da perda de referência e de memória, associadas às alterações urbanas, uma fotografia direta, quase documental, e por outro, reordena as diversas camadas temporais veiculadas pela imagem fotográfica. Ambas concorrem para a emergência de um território visual, que é, a um só tempo, espaço físico, de afetos e memória.
Nesse território, fotografia e arquitetura vernaculares se encontram, ora nas construções prosaicas que desaparecem na cidade, ora nas imagens dos álbuns de família. Márcia Gadioli reconecta paisagem urbana (memória coletiva) à memória individual. Ela perpassa diferentes escalas, do espaço da pólis aos agenciamentos internos da morada, construindo assim um inventário do banal e do ordinário que nos rodeia.
Em um dado momento o registro da cidade se inscreve em uma fotografia aparentemente neutra, transparente; em outro a imagem fotográfica é erigida pela restituição de fragmentos imperfeitos, onde o referente fotográfico se apresenta diluído, comprimido e miscigenado. Márcia consegue, dessa forma, construir um território próprio em que imagens de diferentes períodos podem não só coexistir como podem produzir novos significados. Ela reafirma, assim, o caráter misto e mutante da própria fotografia.