Narrar histórias,
contruir memórias

2021

Rua Maria Tereza Dias da Silva, 708
Barão Geraldo, Campinas – SP

Texto Curatorial

‘Narrar histórias, construir memórias: o livro de artista e seu processo’ é uma exposição viajante. Em sua primeira parada, na cidade de São Paulo, encontrou abrigo na Galeria de Arte do Club Athletico Paulistano. Dando continuidade a sua caminhada, no ano seguinte, em 2019, foi na cidade de Piracicaba, no Espaço Cultural Martha Watts, onde acampou. Permanecendo por mais tempo, fez convite aos artistas de lá – Alzira Ballestero e Gustavo Magalhães.

Sendo nômade, seguiu pelo interior do estado. Almejou Campinas como sua próxima parada. 2020 foi um ano diferente. Abalado por todas as circunstâncias, retirou-se. Preservou-se. Aguardou o melhor momento para continuar.

​Não sendo mais o mesmo e buscando reinventar-se, no ano seguinte, certa mobilidade lhe foi devolvida, caminhou e encontrou no Instituto Pavão Cultural, seu ponto final. Entendeu que lá faria sua despedida. Como de costume, convidou artistas do entorno, e estas o adornaram com suas formas poéticas – Alice Grou, Ana Almeida, Helena Giestas, Marilde Stropp, Norma Vieira e Vera Orsini.

Ocupou paredes, teto e chão. Dialogou com cada canto. Circulou pelas redes sociais. Possibilitou ao público acesso aos ateliês e processos de cada uma das artistas que gentilmente cederam imagens. Recriou-se.

A exposição transmutou-se neste catálogo. Do livro ao espaço, do espaço ao livro. Nessas páginas presentifica-se o passado, fazendo rememorar cada uma das experiências vividas e outras tantas inventadas. Este catálogo torna-se um convite ao universo do livro de artista.

Como em toda tradução poética, escolhas são feitas entre tantas renúncias. No plano bidimensional da fotografia acondicionada na página, perdem-se os elementos sentidos por todo o corpo, quando este encontra-se no espaço expositivo manipulando cada um desses livros.

O espectador-leitor, tanto da exposição quanto neste catálogo, é convidado a ser co-autor. Os livros de artista e livros-objetos possibilitam essa aproximação, pois dão liberdade para que novas formas de ler sejam possíveis.

“O objeto dito acabado pertence a um processo inacabado, em outras palavras, a obra entregue ao público, como um momento do processo, é simultaneamente gerada e geradora. Isto nos leva a pensar na complexa relação entre obras e processos.”

(SALES, Cecília Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. Vinhedo: Editora Horizonte, 2016, p. 154)

Seu principal objetivo é a construção de diálogos entre artistas e público, fornecendo repertório imagético para a compreensão da arte contemporânea, mais especificamente para o entendimento do livro de artista como prática artística, expandindo assim os limites e aplicabilidades de seu formato, história, plástica e linguagem.

Ao longo do catálogo, tomei a liberdade de criar caixas de diálogo. Nelas, apresento minhas leituras e reflexões acerca da poética de cada uma das artistas. Experimente fazer o mesmo. Deixe-se levar pelas percepções e emoções. Compreenda a dimensão da arte como a possibilidade de transformação. Somos matéria em constante transformação.

“Formando a matéria, ordenando-a, configurando-a, dominando-a, também o homem vem a se ordenar interiormente e a dominar-se. Vem a se conhecer um pouco melhor e a ampliar sua consciência nesse processo dinâmico em que recria suas potencialidades essenciais.”
(OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação, Petrópolis: Editora Vozes, 2019, p. 53)

Fabiola Notari
outubro/2021